Teu Silêncio
São Paulo, 8/04/1969
TEU SILÊNCIO
(à João Carlos Martins)
Voaste além das fronteiras e pousaste
As tuas mãos sobre a mais fina haste
Do destino e ela se partiu.
Estavas tão longe dos nossos olhares,
Conheceram-te outros lugares,
Chorou-te o Brasil.
De repente, um inverno de silêncio
Cobriu de neve o espaço imenso,
E a saudade pousou.
A humildade recolheu-se a um canto,
E baixinho em silêncio o pranto
Se derramou.
É tempo de neve em teu caminho,
Nós, galhos secos, onde outrora teu hino
Se ergueu,
Agora somos lenha na lareira,
E a nossa amizade é a fogueira
Que te aqueceu.
E te falamos dos velhos amores,
Por ti esquecidos: dos compositores
Que o povo consagrou.
Eles te amam tanto que pensam tuas feridas,
Em tuas mãos renascem suas vidas,
Que o tempo não levou.
Ouve, João Carlos, nunca desanimes,
Sentirás,novamente, tuas mãos firmes,
Vibrarem no teclado.
A dor de hoje é que te aprimora,
Para os dias de luz, em nova aurora,
Mais bela que o passado.
Será amanhã. Desfar-se-ão os laços,
Preencherás de novo os espaços,
Com um arco-íris de sons
Então saberemos que é primavera,
E que assim anuncias uma nova era,
Dos tempos bons.
Esperaremos por ti. E o teu piano quieto,
Novamente fará nosso sonho repleto
De harmonia.
Sorriremos juntos deste sofrimento,
Quando breve chegar o momento
Da alegria.
Sentarás diante deste teu piano,
E as nuvens do desgosto que tanto dano
Nos tem causado,
Caindo em gotas de luz sobre as cascatas,
De novos prelúdios e novas sonatas,
Limparão o teclado.
Marilusa M.
Vasconcellos
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